sexta-feira, 7 de novembro de 2008

"Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo"

“Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo, torcida brasileira”
Por Emmanuel Grubisich Monteiro


Fiori Gigliotti: sem dúvida, um dos maiores narradores esportivos brasileiros em todos os tempos


A criatividade foi um dos pontos-chave da narração esportiva, a fim de enfrentar a imagem da TV e de conquistar a preferência dos ouvintes.

Um exemplo utilizado pelos locutores foi a utilização dos bordões – expressões ou frases de efeito. Bento Soares, em "Vendo o jogo pelo rádio: memórias da imprensa esportiva brasileira", de 2006, comenta a relação entre a criatividade dos narradores e a forma como ela caiu no gosto das pessoas:

"O futebol sempre foi um campo fértil para a criatividade dos profissionais que lidam com o uso da linguagem aplicada ao esporte. Muitas expressões criadas por locutores e repórteres fizeram sucesso e caíram no gosto e na boca do povo. Algumas delas chegam a ser incorporadas ao linguajar das pessoas, sendo largamente utilizadas em conversas, mesmo fora do ambiente esportivo."

FIORI GIGLIOTTI
Um relato particular: quando criança, meu avô costumava me levar para a Associação do Banestado, aqui em Londrina, nos finais de semana, para nadar e jogar futebol com ele. Era início da década de 1990 e eu pouco entendia de futebol.

Depois de algumas braçadas naquela água gelada, principalmente aos domingos, por volta das 4 horas da tarde, começavam os clássicos do futebol brasileiro e o narrador era quase sempre o Fiori Gigliotti.

Naquela época ainda não havia o pay-per-view na televisão. Meu avô levava o radinho de pilha e o colocava ao lado da piscina para que ouvíssemos as narrações do Fiori.

Por causa destes dois homens: meu avô e pelo Fiori, hoje sou um apaixonado por futebol.

Meu avô, um "louco" por futebol e pelo Fiori, um ícone da narração esportiva em nosso país.
Para mim, quando o Fiori 'cantava' "Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo, torcida brasileira", parecia sim, que o futebol se transformava em algo mágico, se tornava mais bonito do que ele realmente é.

Por coincidência ou não, destino, talvez, Fiori faleceu um dia antes do início da Copa do Mundo da Alemanha, em 8 de junho de 2006.

Para mim, os três maiores narradores foram Fiori Gigliotti, Osmar Santos e José Silvério.
E na opinião de vocês, quem foi o melhor?

Ari Barroso

Ari Barroso, flamenguista fanático, narrando uma partida do telhado de uma casa, ao lado do estádio de São Januário, de propriedade do rival Vasco da Gama, por ter sido proibida a sua entrada naquele local

Você sabia?

O mineiro Ari Barroso, maestro de renome, era também um famoso narrador de futebol.

Bento Soares, em "Vendo o jogo pelo rádio: memórias da imprensa esportiva brasileira", de 2006, comenta que Ari às vezes era irônico, satírico e de estilo lento.

Esse locutor iniciou como speaker (narrador) em 1936, na Rádio Cruzeiro do Sul.

Atuou na Rádio Tupi e passou para a TV Tupi, em 1952. Todas essas emissoras ficavam no Rio de Janeiro.

Ari Barroso foi o introdutor de vinhetas sonoras nas partidas desse esporte. Como ele costumava narrar das arquibancadas, o barulho da torcida era ensurdecedor. Por essa razão, ele comprou uma gaitinha e toda vez que algum time marcava um gol, Ari não gritava, mas sim, tocava esse instrumento.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

CURIOSIDADES: 1ª exclusividade de transmissão e 1ª Copa do Mundo transmitida para o Brasil

1934: PRIMEIROS DIREITOS EXCLUSIVOS NO BRASIL X CRIATIVIDADE DOS NARRADORES

Naquele momento, os locutores esportivos faziam praticamente de tudo para irradiar uma partida de futebol, mesmo com a proibição da entrada nos estádios, das emissoras concorrentes da Rádio Cruzeiro do Sul, detentora dos direitos exclusivos.

Edileuza Soares, em "A bola no ar, o rádio esportivo em São Paulo", de 1994, menciona o exemplo de Nicolau Tuma, então narrador da Rádio Difusora.

Em dezembro de 1934, ele adquiriu da Confederação Brasileira de Desportos a autorização para vender a publicidade da transmissão de um jogo do qual ele faria a locução, no Palestra Itália.
A linha telefônica foi instalada no estádio, mas a emissora acabou sendo comunicada da exclusividade da Cruzeiro do Sul naquele local. Isso não evitou que Nicolau Tuma narrasse e cumprisse o acordo com os anunciantes.

O detalhe é que ele narrou do alto de uma escada de 14 metros, ao lado do campo do Palestra.

Agora a pergunta que me vem a cabeça é: "Será que o Galvão Bueno subiria em uma escada daquelas para narrar uma partida? E o Luciano do Valle? Não que eles não subissem. Pode até ser que sim, mas eu apostaria que o locutor que se arriscaria seria o Silvio Luiz.

E vocês, o que pensam?

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1938: PRIMEIRA COPA DO MUNDO TRANSMITIDA PARA O BRASIL

As duas primeiras Copas do Mundo (1930 – Uruguai, 1934 – Itália) não contaram ainda com a presença do rádio e das narrações dos locutores esportivos.

A primeira irradiação de uma partida de Copa do Mundo para o Brasil, aconteceu em 1938, na França e o locutor esportivo foi Leonardo Gagliano Neto. Ele também foi o responsável pela primeira transmissão internacional de uma partida de futebol para o nosso país – em dezembro de 1936 ele irradiou o Campeonato Sul-Americano, disputado na Argentina.

Ele narrou a participação brasileira para a cadeia de emissoras Byington, formada pelas rádios Clube do Brasil e Cruzeiro do Sul, do Rio de Janeiro, Cosmos e Cruzeiro do Sul, de São Paulo. Era a chamada Rede Verde-Amarela.

As pessoas que não tinham um aparelho receptor, se aglomeraram no Largo do Paissandu, em São Paulo, e, diante da Galeria Cruzeiro, no Rio de Janeiro, e ouviam as narrações por meio de alto falantes.

ENTREVISTA COM J. MATEUS, JORNALISTA ESPORTIVO

Por Emmanuel Grubisich Monteiro

No frio do Uruguai, na Copa América de 1995.


Nome: José Mateus de Lima
Idade: 60 anos
Nascimento: Arapongas - PR
Tem 44 anos de experiência radiofônica.
Trabalhou nas Rádios:
Arapongas, Cultura/Arapongas,
Cultura/Apucarana, Atalaia/Maringá,
Cultura/Maringá, Alvorada/Londrina e
Rádio Clube.
Trabalhou na TV Cultura/Maringá.
Esta é sua terceira passagem pela Paiquerê.
Está nesta Rádio desde 1988.


Como foi o início de sua carreira?
Comecei no rádio como uma brincadeira. Eu tinha dezesseis anos. Gostava de ouvir futebol no rádio. Imitava os grandes locutores da época. Um dia liguei para uma rádio, fiz as imitações para um locutor. Ele gostou, me chamou para ir até a emissora. Fiz as imitações ao vivo, tremendo como uma vara verde. Fui contratado e passei a fazer o plantão da Rádio Arapongas, em 1964.

O que é mais gratificante na profissão?
Tudo é gratificante quando você consegue sucesso naquilo que faz. Sempre gostei do que faço, então sempre tive motivação para trabalhar.

O que você considera ser mais difícil?
Há algum tempo estou só no esporte, mas já fiz jornalismo, fiz programação musical, fui noticiarista, apresentei programa dos mais diversos. Até hoje não enfrentei nenhuma barreira. O difícil é quando a pessoa não se prepara e eu gosto de me preparar bem.

Quantas Copas do Mundo, Copas América e Olimpíadas?
Cinco Copas do Mundo desde 1990. Copa América trabalho desde 1989 e Olimpíadas cobri a de Atlanta, em 1996, fora outros eventos, como o Pré-olímpico, alguns torneios internacionais e principalmente jogos amistosos da seleção.

Em qual evento você tem mais satisfação de trabalhar?
Todo evento bom dá satisfação. A Copa do Mundo é considerada a nata. Mas tão gostoso quanto ver o Brasil ser campeão do mundo, é ver o Londrina campeão paranaense. Ainda acho que a emoção fica por conta do local, que é algo muito particular. Vi o LEC campeão em 1981 e em 1992 e confesso que foi muito gostoso sentir o povo da sua cidade, as pessoas do seu convívio vibrando com o fato. É claro que vibram também com a seleção brasileira, mas o Brasil é algo mais amplo.

Qual o momento mais marcante de sua carreira?
O Brasil campeão nos Estados Unidos e na Ásia. Tive algumas outras emoções: eu tinha 11 anos quando o Brasil ganhou a primeira Copa do Mundo, em 1958. Eu ouvia Pedro Luiz e Édson Leite, pela Rádio Bandeirantes de São Paulo. Trinta anos mais tarde, eu estava no mesmo estádio, transmitindo Brasil x Suécia, em partida comemorativa dos 30 anos daquela final. Outra passagem maravilhosa foi durante a Copa do Mundo de 1990 na Itália. Eu estava em Roma, cobrindo a Copa. Depois que o Brasil foi desclassificado, o Osmar Santos, na época na Rádio Record, me convidou para que eu fizesse o jogo Colômbia x Camarões, porque o locutor daquela emissora estava rouco. Para a minha surpresa, o comentarista era o Pedro Luiz, meu ídolo de infância e juventude. Aquilo me marcou muito porque o Pedro Luiz, para mim, foi o maior narrador de futebol do rádio brasileiro. O repórter era o Roberto Carmona, que também nasceu em Arapongas. Foi muito emocionante.

Alguns personagens que você teve prazer em conhecer e quais os melhores atletas que viu atuar?
O melhor de todos foi Pelé. Não transmiti jogos do Pelé, mas eu o vi jogar. Depois dele, Zico e Sócrates. Entre os Ronaldos, prefiro o “Fenômeno”. Apesar dos problemas, ele foi mais positivo, em termos de seleção brasileira.
Quanto a personagens, prefiro os do rádio, como Pedro Luiz, que me inspirou muito. Haroldo Fernandes, que era da Tupi. Fiori Gigliotti, uma pessoa maravilhosa e que deixou muita saudade. Às vezes eu ficava uns quatro anos sem encontrar o Fiori e ele sempre me cumprimentava e chamava pelo nome. Era sempre muito gratificante encontrá-lo pela gentileza e amizade dele.

O jornalismo para J. Mateus é...
Paixão. Comecei em 1964. Eu brinco muito com a minha família, com os meus amigos. Digo que enquanto eu tiver boca para falar e dedo para escrever, eu não vou parar. Não me vejo parado não. E o que é importante é que eu me sinto bastante motivado.

Existe algo que você ainda sonha realizar no jornalismo esportivo?
Tive a felicidade de fazer as maiores coberturas que o esporte proporciona, mas eu tinha um pensamento de completar cinco Copas do Mundo e talvez até abrir espaço para outros chegarem, mas a motivação está tão grande que eu tenho o sonho de cobrir a sexta, talvez a sétima Copa do Mundo. É tudo uma questão de saúde e disposição.

Recado para quem começa na profissão.
É um caminho duro, o mercado é pequeno. Se não tiver muita disposição, vocação e amor pelo o que faz, a carreira não dá certo. Em relação ao rádio, ele é a melhor escola do jornalismo, porque nele você enfrenta todas as situações de improviso, você está ao vivo e se falta alguma palavra, tem de buscar na mente e sair das situações.

Rádio e futebol: transição do amadorismo para o profissionalismo

FUTEBOL NO RÁDIO E A TRANSIÇÃO
DO AMADORISMO PARA O PROFISSIONALISMO NO FUTEBOL: 1933

Edileuza Soares, em “A bola no ar, o rádio esportivo em São Paulo”, de 1994, afirma que as transmissões sistemáticas das partidas de futebol coincidiram com a profissionalização desse esporte em nosso país, em 1933.

A autora menciona que o professor americano Robert Levine (1982) credita importância ao rádio na mudança do cenário do futebol brasileiro, o qual era predominantemente amador. “A transição do amadorismo para o profissionalismo foi ajudada substancialmente pelo crescimento na divulgação do rádio em meados dos anos 30”.

Narração de gol mais curta x mais longa

Os narradores de rádio e televisão
contribuíram com a paixão do brasileiro pelo futebol

Por Emmanuel Grubisich Monteiro


O rádio, por meio de seu longo alcance, possibilitou que torcedores no Norte e Nordeste do Brasil acompanhassem as partidas dos principais times do Rio de Janeiro e de São Paulo. Essa é uma explicação pela qual Flamengo e Corinthians têm as duas maiores torcidas do país.


NARRAÇÃO DE GOL CURTA x LONGA

NICOLAU TUMA (1911 - 2006)


Vários locutores ficaram conhecidos pela forma de gritar gol. Em depoimento a Edileuza Soares, no livro “A bola no ar, o rádio esportivo em São Paulo”, de 1994, Nicolau Tuma explica porque não gostava de gritar o gol demoradamente. “Eu acho que o gol anunciado de forma demorada é uma perda de tempo. Quando um locutor diz ‘gooooooooooool’ e fica assim 20 segundos, o ouvinte quer saber logo quem foi que marcou”.



REBELLO JÚNIOR

Bento Soares, em “Vendo o jogo pelo rádio: memórias da imprensa esportiva brasileira”, de 2006, relata que Rebello Júnior foi o primeiro locutor a gritar o gol de forma demorada. Ele criou o estilo praticado até hoje e recebeu o apelido de “o homem do gol inconfundível”. Segundo o autor, Rebello Júnior narrou pela primeira vez em 1936, pela Rádio Cosmos, de São Paulo.

NARRADORES CARIOCAS X NARRADORES PAULISTAS
Segundo Bento Soares (2006), as primeiras transmissões de futebol no Rio de Janeiro foram realizadas por Amador Santos, pela Rádio Clube do Brasil. O autor afirma que os cariocas descreviam o lance pausadamente, ao contrário dos paulistas, que apresentavam narrações com mais emoção e vibração.

E você, o que prefere? Lembrando que os dois estilos fizeram sucesso.
  1. Uma narração com mais emoção e vibração?
  2. Uma narração mais cadenciada, mais pausada?

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

1931: Primeira narração

O INÍCIO DO RÁDIO NO BRASIL
Por Emmanuel Grubisich Monteiro


Nicolau Tuma, pioneiro nas transmissões de futebol no rádio brasileiro,
ao centro, no jogo entre as seleções paulista e carioca, em 1932.


No início, o rádio no Brasil, era feito de forma amadora e não havia transmissões regulares. Os ouvintes eram sócios ou contribuintes e financiavam as emissoras, que eram um passatempo da elite ligada à cultura, porque os aparelhos receptores eram trazidos do exterior, e o seu custo era elevado. A programação apresentava ópera, recitais de poesia e concertos.

O FUTEBOL NO RÁDIO

O surgimento da transmissão radiofônica de futebol, em 1931, impulsionou ainda mais a difusão desse esporte. De acordo com Edileuza Soares, em “A bola no ar, o rádio esportivo em São Paulo”, de 1994, “o rádio esportivo foi essencial para a transformação do futebol em esporte de massa e um importante complemento na definição do rádio como meio de comunicação de massa”.

O PIONEIRO

As irradiações de futebol, no Brasil, completaram 77 anos em 2008. O pioneiro foi o paulista Nicolau Tuma, pela Rádio Sociedade Educadora Paulista. O jogo, válido pelo VIII Campeonato Brasileiro, reuniu as seleções paulista e paranaense, no dia 19 de julho de 1931. O confronto aconteceu no campo da Chácara da Floresta, no bairro da Ponte Grande, em São Paulo, e a equipe local venceu por seis a quatro.

A improvisação e o amadorismo predominavam no noticiário de rádio, inclusive no esportivo. Pouco antes do início da primeira partida irradiada, Nicolau Tuma esteve nos vestiários das equipes, com o intuito de memorizar as características físicas de cada atleta, porque até então, não havia numeração nas camisas dos jogadores.

Naquele momento, não existia um espaço reservado para os radialistas, assim como não havia a presença dos repórteres de campo e nem dos comentaristas. O locutor atuava sozinho. Tuma improvisou e narrou das arquibancadas, próximo dos torcedores.

Nicolau Tuma precisou criar um estilo. Ele optou por uma descrição fotográfica, a fim de dar ao ouvinte a imagem exata do campo e do jogo. Tuma ficou conhecido como o “Speaker Metralhadora”, por pronunciar até 250 palavras por minuto.

Os jornais da época destacavam que muitos torcedores preferiam acompanhar as narrações pelo rádio, em suas casas, a irem ao próprio estádio - naquele momento não existia o rádio a pilha, que surgiu com a criação, em 1947, do transistor, o qual possibilitou a miniaturização dos aparelhos.

Os radialistas conquistaram o público que, na falta da imagem real da “disputa” nos gramados, passou a ter liberdade para imaginar o jogo como bem entendesse. O narrador do jogo, já naquele momento, caiu no gosto do povo brasileiro.